O Tocador de piano
Sempre se falou no futebol sobre o
“carregador de piano”, aquele volante voluntarioso que abdica do jogo bonito
para “brigar” no meio de campo pela bola, quase sempre retomando a jogada para
seu time e a entregando para outro jogador de toque mais refinado a fim de dar
seqüência à jogada em prol de sua equipe sem que isso o minimize diante dos
demais, alguns até conquistaram lugares cativos em seus times tornando-se
figurinhas carimbadas, entrando para a história, apesar da clara falta de
habilidade com a bola nos pés. Enfim, este tipo de jogador carregava
literalmente o piano.
Porém, se este carregava o piano, seria
para que ele fosse tocado por alguém, nesse caso um jogador mais habilidoso.
Digo isso simplesmente pelo ocorrido no
sábado sem fim que discorro agora:
Estávamos eu e o Marrone, aguardando nossa
vez de entrar na quadra à beira da tela e apreciando o jogo corrente. Eis que,
conversa vai, conversa vem, a bola se entrega aos pés do Fernando, que com
categoria indiscutível a domina de maneira habitual, mas naquele instante nos
postamos a prestar mais atenção à jogada. Simplesmente, com a bola sob o
domínio de seus pés “mágicos”, ouso dizer, ele finta dois de uma só vez em um
espaço que para nós, reles mortais, a bola não cabia. Um terceiro adversário, tão próximo
quanto os dois anteriores foi também facilmente driblado (facilmente para ele,
é claro) e mais um logo na seqüência, e tenho a impressão que quantos mais
aparecessem a sua frente teriam o mesmo destino dos demais.
Você vai me dizer, - Ah, eu já vi várias
jogadas assim. Eu também já vi muitas e muitas jogadas tão belas quanto essa por esse mundão do futebol
“varzeano”. Mas naquela jogada, talvez por estarmos prestando mais atenção,
percebemos que em nenhum momento o Fernando olhou para a bola, desde a
dominação da pelota, ele a colocou no piso sintético e com seus toques sutis se
livrava de cada um que aparecia, com a cabeça erguida, procurando um espaço, um
companheiro melhor colocado ou buscando um caminho para o gol, defendido
honrosamente pelo nosso querido Marcão.
Sinceramente, seus toques na bola eram tão
suaves e perfeitos que ali mesmo comentei com o Marrone, - O cara parece que
está tocando um piano...
Sergio...